Vida de mãe expatriada: um desafio chamado “saudade”
Quando morava no Brasil, nunca dei muita bola para saudade. Me achava super durona quando dizia que “não era de ter saudade”. Mas é bem fácil dizer isso quando somos nascidos e criados em nossa cidade, com a família e amigos de uma vida inteira bem pertinho.
Quando nos mudamos para Hong Kong, percebi que “o buraco é mais embaixo”. Um dos sentimentos que temos de aprender a administrar quando moramos fora de nosso país é a saudade.
Ao longo do tempo, notei que este sentimento tem várias nuances, a saudade vai além daquela falta que as pessoas queridas nos fazem. Atualmente, com as facilidades que a tecnologia nos oferece, não há distância que nos afaste das pessoas que nos são caras.
Faço chamadas de vídeo frequentes com minha família e amigos, o que resolve muito bem essa ausência física.
Claro que não é a mesma coisa, acompanhar a rotina dos nossos familiares, participar das festas e eventos de família pessoalmente faz toda a diferença. Quando estou no Brasil, dou vida à minha “relações públicas” interior e tudo é motivo para reunir, festejar e celebrar.
Um pouco além da saudade…
Mas a saudade vai mais além da falta de encontros e festas. Depois de quase cinco anos vivendo fora do meu país, percebi que a nostalgia e muitas vezes a melancolia vêm do distanciamento das memórias afetivas.
Certa vez me dei conta de que estava triste porque estava com saudades de tomar chá mate e comer bolinhos de chuva (quem é mineiro entende rsrs) numa tarde chuvosa.
Em outra ocasião, meu coração apertou quando vi nas redes sociais meus amigos se reunindo sem mim.
Entretanto, quando fico tempo demais no Brasil já começo a sentir falta da minha casa, amigos e estilo de vida em Hong Kong. Dia desses, vi um prato de comida chinesa nas mídias sociais e meu coração doeu rsrs
Perceber que a vida segue, as pessoas se casam, têm filhos e fazem festas sem a presença da gente as vezes é bem doído rsrs
Leia também:
Viagem em família: balanço das férias de verão no Brasil
Como as crianças lidam com a saudade
Quando nos mudamos para Hong Kong eles eram muito pequenos, Arthur tinha seis anos e Sofia só três. Então para eles a saudade é mais concreta, literal. Eles não sentem falta da rotina, sentem falta das pessoas e dos lugares que ficaram para trás.
Tenho mostrado a eles a importância de acolher esse sentimento que muitas vezes se torna um vazio mas não deixar a saudade virar tristeza.
Mais do que isso, tenho ensinado a importância de viver o momento presente e aproveitar o que temos. Estamos no Brasil? Então vamos curtir a família, ver os amigos e desfrutar do carinho do nosso país.
Se estamos em Hong Kong, é hora de aproveitar a segurança, qualidade de vida e possibilidades de passeios e aprendizado que estão disponíveis.
Porque se sentir nostálgico é normal…
Quando estava escrevendo este texto fiquei pensando se não estou muito sentimental. Acho que estou mesmo. E penso que não é a toa, já estou há mais de três meses longe da minha casa, mais de dois meses longe do meu marido e com a vida suspensa sem prazo para retorno.
Tenho aprendido a olhar e aceitar esses sentimentos mas também a não super valorizá-los. Afinal de contas, fui eu quem se mudou, e a vida (obviamente) segue seu curso sem a minha presença.
Aprender a lidar com essas circunstâncias que estão além do nosso entendimento e acima da nossa gerência é desafiador, mas também uma excelente oportunidade de exercermos o desapego ao controle e também o otimismo!
Então finalizo minha reflexão com muita saudade do meu marido e da minha rotina de vida em Hong Kong mas também muito feliz em poder estar com meus familiares e amigos no Brasil!
E vamos vivendo um dia de cada vez!
Um beijo e até a próxima!
Leia também: