Série religiões na China: budismo
A religião sobre a qual irei comentar essa semana é o budismo. Eu achava que sabia um pouco a respeito mas, depois de pesquisar e conversar com alguns amigos, percebi o quanto estava enganada. Assim como todas as religiões do oriente, esta é a uma religião antiguíssima!
O budismo tem uma longa história na China e tem sido fundamental para moldar a cultura e a tradição chinesas. Ao longo dos milênios, os budistas na China enfrentaram apoio e até perseguição de vários líderes, mas a religião permaneceu forte e hoje a China abriga a maior população budista do mundo.
O budismo chinês é uma das formas mais antigas de budismo da história e a religião estrangeira mais antiga da China. Os budistas chineses acreditam em uma combinação de taoísmo e budismo mahayana (este que ensina que a iluminação pode ser alcançada em uma única vida).
Um pouco de história
Acho interessante compartilhar um pouco da história, penso que fica mais fácil de compreendermos a complexidade e ramificações desta religião.
A história do budismo se estende do século VI a.C até o presente. Ele surgiu na parte oriental da Índia antiga e é baseado nos ensinamentos de Sidarta Gautama. Isso a torna uma das religiões mais antigas praticadas hoje.
A religião evoluiu à medida em que se espalhava da região nordeste do subcontinente indiano, passando pela região central, leste e sudeste da ásia. Influenciou a maior parte do continente asiático. A história do budismo também é caracterizada pelo desenvolvimento de numerosos movimentos e escolas.
Desde cerca de 500 a.C, a cultura da Índia exerce influência sobre os países do sudeste asiático. As rotas de comércio terrestre e marítimo ligavam a Índia à região e as crenças hindu e budista tornaram-se influentes no sudeste da ásia. Por mais de mil anos, a influência indiana foi, portanto, o principal fator que trouxe um certo nível de unidade cultural aos vários países da região. As línguas e os escritos indianos, juntamente com o budismo e o hinduísmo, foram transmitidos por contato direto e através de textos sagrados e literatura indiana.
Os monges budistas viajaram para a China no século V d.C., levando seus textos, um sinal de que a religião já estava estabelecida na região.
Os povos da ásia central desempenharam um papel fundamental na transmissão do budismo para a China. Os primeiros tradutores das escrituras budistas para o chinês vieram do Irã. Uma curiosidade, obviamente uma novidade para mim, é que a maioria dos tradutores das escrituras para o chinês foi identificada como proveniente da esfera cultural iraniana.
Diferenças entre o budismo original e o budismo chinês
No Brasil eu sempre via imagens de um Buda gordinho, careca e sorridente (que me lembrava muito o deus baco, da mitologia grega). Quando me mudei para Hong Kong e comecei a visitar templos, vi uma imagem do Buda totalmente diferente.
A razão disso é que os preceitos budistas originais ensinaram que Buda alcançou a iluminação após o jejum, as informações inclusive são de que ele era extremamente magro. De fato, em muitos países budistas, Buda é representado como muito magro e meditando sob uma árvore.
Já no budismo mahayana, da ásia central, Buda é descrito como forte e saudável, e evidências disso foram encontradas em estátuas de Buda esculpidas ao longo da Rota da Seda antes do final da dinastia Tang.
Em contraste com o anterior, o Budai, ou o “Buda rindo”, tem sido a representação mais comum e mais popular de Buda na China há séculos. O principal objetivo dos budistas chineses na vida é “ser feliz”, e é por esse motivo que as representações de Buda na China o mostram como gordo e rindo ou sorrindo.
Além disso, há uma diferença significativa entre o budismo chinês e os ensinamentos budistas originais (que é a crença de que Buda não é apenas um professor que ensinou aos seguidores o que fazer, mas um deus a quem orar por ajuda e salvação).
Os budistas chineses acreditam em uma combinação de taoísmo (já viu o texto onde falo sobre o Taoísmo? Se não, clique aqui) e budismo, o que significa que rezam aos deuses buda e taoísta. Assim como os taoístas, os budistas chineses também prestam homenagem aos seus antepassados, acreditando que precisam e querem sua ajuda. Um excelente exemplo dessa combinação de crenças religiosas é a queima de papéis pelos budistas durante cerimônias e festivais religiosos, como o Chig Ming Festival.
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Qual é a filosofia do budismo?
Resumidamente, posso dizer que os budistas entendem que esta religião é um caminho de prática e desenvolvimento espiritual que leva à compreensão da verdadeira natureza da realidade. As práticas budistas, como a meditação, são meios de mudar a si mesmo, a fim de desenvolver as qualidades de consciência, bondade e sabedoria.
Busca-se seguir os ensinamentos e preceitos para se tornar um ser iluminado que compreende a natureza da realidade de maneira absolutamente clara e vive plena e naturalmente de acordo com essa visão. Esse é o objetivo da vida espiritual budista, representando o fim do sofrimento para quem o alcançar. Como o budismo não inclui a ideia de adorar um deus criador, algumas pessoas não o veem como uma religião no sentido ocidental normal.
Os princípios básicos do ensino budista são diretos e práticos: nada é fixo ou permanente; ações têm consequências; mudança é possível. Portanto, o budismo se dirige a todas as pessoas, independentemente de raça, nacionalidade, casta, sexualidade ou gênero. Ele ensina métodos práticos que permitem que as pessoas percebam e usem seus ensinamentos, a fim de transformar sua experiência e serem totalmente responsáveis por suas vidas.
Sobre o budismo em Hong Kong
O Budismo é uma religião importante em Hong Kong e tem sido muito influente na cultura tradicional da população. Entre os templos budistas mais importantes, há o convento de Chi Lin em Diamond Hill, construído no estilo arquitetônico da dinastia Tang, e o Mosteiro Po Lin, aqui na ilha de Lantau, famosa pela estátua de bronze ao ar livre, o Big Buddha (clique aqui e saiba mais).
As organizações e os templos budistas em Hong Kong estão envolvidos há muito tempo no bem-estar social e na educação. A Associação Budista de Hong Kong opera mais de uma dúzia de escolas primárias e secundárias (inclusive a que meus filhos estudam), lares de idosos, entre outros.
O ex-presidente-executivo Tung Chee Hwa, reconheceu formalmente a influência do budismo em Hong Kong e em 1997, o governo designou o aniversário de Buda como feriado, que substituiu o feriado de aniversário da rainha. O próprio Tung é budista e participou de grandes atividades budistas amplamente divulgadas em Hong Kong e China.
Por aqui vê-se grande estímulo aos estudos sobre o budismo. A Universidade de Hong Kong tem um Centro de Estudos Budistas e a Universidade Chinesa de Hong Kong também possui um Centro para o Estudo do Budismo Humanista.
Fico admirada e impressionada com a beleza e profundidade das religiões asiáticas! Espero que estejam gostando desta série de textos!
Fiquem ligados que semana que vem tem mais!