Cooperação, trabalho e responsabilidade: Serão esses conceitos ultrapassados?

Cooperação, trabalho e responsabilidade: Serão esses conceitos ultrapassados?

Essa semana publiquei nas minhas mídias sociais um vídeo onde eu falava sobre a importância de ensinar as crianças os conceitos de cooperação, trabalho e responsabilidade desde sempre: confira aqui.
O assunto trouxe uma repercussão tão interessante que decidi falar mais a respeito aqui no Blog.

Desde muito nova aprendi que só temos direitos se cumprirmos os nossos deveres. Minha mãe sempre me ensinou isso e me mostrava com exemplos que só posso usufruir se eu contribuir.

Hoje em dia percebo que as pessoas sabem muito bem quais são seus diretos mas não dão muita bola para seus deveres.

Penso que a criação de uma criança é uma construção diária, paciente e constante. Ter filhos vai muito (mas muito além) daquele conceito tacanho de que provisões materiais e lazer são suficientes. Gosto de ter muito claro em minha mente que estou criando pessoas — apesar de sentir lá no fundo do meu coração que eles serão meus bebês eternamente, na verdade eles daqui a pouco terão suas próprias famílias e certamente serão o exemplo para alguém .

Meu filho mais velho está entrando na pré-adolescência, percebo que agora já não é o momento de ensinar muitos valores. Eu já o vejo colocar em prática o que ensinamos quando ele era bem pequeno e o nosso papel de pais agora é ir aprimorando e polindo os conceitos que trabalhamos durante toda a infância.

Comentei no vídeo (lá do Instagram – me sigam lá =) ) a diferença de criação que minha mãe teve enquanto criança e a que eu tive. Ela conta, que como uma das filhas mais velhas era responsável pelo cuidado dos irmãos menores e além disso tinha inúmeras tarefas domésticas.

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Quando eu era criança, tinha tarefas a fazer principalmente no que se referia a escola, mas não obrigações domésticas. E como sou filha única, não tive a experiência de cuidar ou receber cuidados de um irmão.

Atualmente, tento dar para minhas crianças algumas atribuições da vida doméstica e peço sempre que um cuide do outro (o conceito do cuidar se estende a todos os membros da família) mas o meu foco está no cumprimento das atribuições escolares (inclua aí leituras e trabalhos extras).

Mas por que dar obrigações domésticas às crianças?

Primeiro porque acho que faz bem a qualquer indivíduo compreender como uma casa funciona. As roupas não se lavam sozinhas e muito menos aparecem por mágica passadas dentro do armário.

Para termos uma geladeira repleta de comidas saudáveis, alguém tem de ir até o mercado, escolher, comprar, transportar, higienizar e armazenar.
Temos uma cachorrinha que é o bebê da casa, mas ela precisa de passear, ter água, comida, banho e por aí vai…

Quando as crianças entendem o funcionamento das coisas acho que é mais fácil darem valor àquele trabalho e também valorizar as pessoas que o executam.

Para mandar, aprenda primeiro como fazer

Outro motivo, é uma frase que minha mãe sempre me disse: “Para saber mandar, você deve saber fazer”. Aqui em Hong Kong temos uma empregada doméstica que cuida de praticamente tudo ao que se refere as questões domésticas. Porém, tudo sob a minha supervisão.

Faço os cardápios semanais, ensino receitas para ela, temos as escalas de limpeza e organização que ela segue à risca.
Se eu não soubesse como se faz acredito que dificilmente teria essa organização que gosto delegando as funções domésticas a alguém.

As crianças fazem parte da casa

A importância da cooperação e do trabalho em equipe. Gosto de dizer aos meus filhos que somos um time onde todos tem o seu papel. Se um de nós por alguma razão não pode cumprir o seu papel naquele momento, outro assume a responsabilidade.

É claro que tudo é conversado e observado. Se eu percebo que uma das crianças tem se esquivado com frequência de algum atividade conversamos e negociamos.

Entendo que esse sentimento de “pertencimento” é importante. Quando eles se sentem parte de uma equipe, agem pensando mais no bem da equipe do que em seu próprio umbigo.

Mas como as crianças podem contribuir?

Como eu já disse algumas vezes por aqui, cada família tem um ritmo, um sistema e uma realidade. Vou dar dicas que funcionam para nós.

Aqui em Hong Kong é um hábito não entrar em casa de sapatos. Então todo mundo quando chega em casa tira seus sapatos e guarda na sapateira.

Roupas sujas vão direto para o cesto de roupa suja, os armários e gavetas de roupas devem estar sempre organizados, bem como os brinquedos devidamente organizados nos respectivos quartos (tenho horror de brinquedos espalhados pela casa).

Na folga da minha ajudante, o Arthur, meu filho mais velho, passeia com nossa cachorrinha (eu moro em Hong Kong, aqui é super seguro, não sei se é legal fazer isso em outros lugares). Nestes dias, colocar o lixo “para fora” também é responsabilidade dos pequenos.

Também acho legal quando terminamos as refeições colocarmos nossos pratos e talheres na pia.

O valor ao trabalho

É claro que eu poderia absorver todas essas atribuições. Entretanto, além de ficar sobrecarregada acho que perderia a oportunidade de ensinar algo tão valoroso aos meus filhos.

Quando eles veem o quartinho arrumado, a mochila da escola organizada por eles com esmero já percebo neles aquela sensação gostosa que o dever cumprido nos dá.

Entender que somos todos parte de um todo (atualmente esse todo se resume só à nossa casa, mas daqui a pouco será muito maior) e que quando cumprimos nosso papel da melhor forma possível tudo fica mais fácil, agradável e justo, é definitivamente uma das sementes que quero que floresça em meus filhos.

Como você trabalha esses conceitos em casa?

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